Há mulheres que germinam entre flores.

Há mulheres que germinam entre flores. Nunca se interrogaram porquê. Possivelmente porque na sua concepção, a janela do quarto de uma mulher e de um homem que se amavam tivesse ficado aberta. Por ela entraram pólen e luar, envolvendo beijos, fecundando sonhos.
Em maio nascem estas meninas-mulheres. São rosadas. Os olhos têm cor indefinida, algures entre o violeta e o firmamento, têm a profundidade do gineceu de uma anémona.
Crescem num tempo que dificilmente condiz com o dos relógios. Trazem em si uma clepsidra oculta que conta gota a gota o tempo que levam até ao limbo do amor.
As suas mãos têm o toque aveludado das violetas. Vestem o olhar de miragens de campos de alfazemas onde encontram a calma nas tardes de sofrimento. Erguem-se como árvores carregadas de flores. Sentem-se glicínias e magnólias, mas dos seus ramos o vento não arrebata as folhas. Assolam o ímpeto dos outonos, abraçam todos os momentos em que foram felizes. São perenes e sobre abraços escrevem, como se estes as prendessem para sempre à vida. Sustentam-se de poesia e de ternuras. Saciam-se como as sementes que infinitamente lançaram à terra. Não são nem tudo nem nada porque ao seu lado ninguém se sentiu só na primavera.

(Para Alice Queiroz. Com saudade.)

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             Óleo s/ tela, de © Kristin Vestgard

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