Queria saber escrever um poema de natal

Queria saber escrever um poema de natal.
Não estive lá, penso para mim.
Mas se tivesse estado e fosse uma pastorinha,
uma ovelha, um burrinho ou só o ar
para respirar…
Até podia ser uma criança, filha do hortelão
que fornecia a estalagem onde eu vi,
de olhos muito abertos, o hospedeiro muito apressado,
a desdenhar, pois então, do homem cansado
com o seu cajado a dirigir com cuidado.
Fechou-lhe a porta na cara e ali já pude ver
um burrito que levava sentada, uma linda
mulher jovem, sossegada, que sorria de ternura.
“É preciso encontrar lugar para eles”, pedi ao papá.
E ao ver uma estrela enorme como um sol,
pôs-me às costas para mostrar o carreiro
para a gruta, quase cabana, onde tomaram caminho.
Já à noitinha, o pai cortou umas couves, fez uma sopa
e levou, comigo na sua mão, para a gruta de Belém.
Onde estaria antes a criança que eu não vira?
Da sopa não pôde comer. “É um bebé”, disse o pai.
Dei-lhe um beijinho na testa, o soninho já chegava.
Sonhei numa noite só que aquele Menino a Quem
fecharam a porta, terá sempre o Seu coração aberto.
O papá explicou- e era só hortelão- que há dentro dEle
Amor que nunca será demais e que Se chama Jesus.
*

(deve ler-se com a entoação entusiasmada com que contaria
a história de natal a uma criança pequenina)

*

adoração do menino031.png-2
        Aguarela s/ papel Canson: Adoração do Menino. 31. ©Irene Gomes
*
in 
NÃO HAVIA LUGAR (e-book, vários autores, 2017)
*
link: https://issuu.com/correiasepulveda/docs/n__o_havia_lugar__colect__nea_de_na

5 pensamentos sobre “Queria saber escrever um poema de natal

  1. Não me é fácil escrever um poema de natal. Escrevera outro, há décadas, que resultou ‘vazio’.
    Talvez porque dos natais da infância se tenham perpetuado memórias vazias. Nos últimos 3 anos compreendi que tenho celebrado o natal de uma forma idealizada. Nem sempre memórias vazias levam a mentes sem sonhos.
    Nunca parei de sonhar. Uma das pinturas da minha amiga Irene Gomes, artista plástica, provocou-me uma ventania de palavras. Nelas sou menina pequenina. Aquela que pensavam que não sonhava.

    «(…) Sabes, o silêncio que impuseste gritou,
    a crueza do nada floriu,
    a inexistência dos meus sonhos
    só era real para ti….» ; in Evocação das Águas, nov. 2015)

    Irene, muito grata te abraço.
    Lília

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  2. Cheio de ternura e delicadeza, o teu poema de Natal. Gostei imenso. E reli-o com entoação entusiasmada…
    Que seja bom o teu Natal e que o novo ano seja cheio de sucessos e de muito amor e de muita saúde.
    Um beijo, minha Amiga.

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